
Apreciação Artística
Esta pintura retrata um peru morto, estendido sobre uma superfície com as asas ligeiramente levantadas, como se estivesse congelado num momento de repouso gracioso porém marcado pela inevitável decadência. As penas do peru são representadas com pinceladas espessas e texturizadas, contrastando fortemente com o fundo composto por uma cesta trançada em tons quentes de marrom e dourado. A cabeça, com detalhes em tons pálidos e carnudos, destaca-se nitidamente contra as plumas escuras e as profundas sombras do fundo, intensificando a atmosfera sombria mas digna. A técnica do claro-escuro aqui utilizada realça a ausência de vida, mas mantém a nobreza do sujeito, demonstrando o domínio magistral do pintor sobre luz e sombra.
A composição é íntima e dramática; o peru domina grande parte da tela, aproximando o espectador desta silenciosa expressão da fragilidade da existência. A paleta de cores é centrada em tons terrosos e negros profundos, contrastando com o tom pálido da carne e a textura quente da cesta ao fundo, criando uma tensão visual marcante. Esta obra reflete o contexto histórico conturbado de Espanha no início do século XIX, onde a morte e a sobrevivência coexistiam, revelando o interesse de Goya em transformar um motivo cotidiano numa reflexão filosófica profunda. Nesta simples imagem, o artista capta a quietude após a luta e a beleza inerente às realidades mais sombrias.